Brasil interrompe alta no fluxo de turistas estrangeiros após passar a cobrar vistos de EUA, Canadá e Austrália
13/07/2025
(Foto: Reprodução) País recebeu 25,3% a mais de turistas desses país no primeiro trimestre, se comparado a 2024. Com novas regras, desde abril, tendência se inverteu e Brasil registrou queda de 0,6%. Dados sobre a chegada de turistas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália ao Brasil apontam que, no segundo trimestre deste ano, os números positivos que vinham sendo registrados nos meses anteriores "desapareceram".
O motivo pode estar em uma medida que entrou em vigor no dia 10 de abril: a retomada da exigência de visto para turistas desses países, prevista em um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
🔎A medida foi tomada pelo governo Lula por conta de um entendimento do governo de que esse tipo de norma demanda reciprocidade, e não pode ser tomada de forma unilateral, como foi o caso.
🌍Na época em que foi lançada, a expectativa era a de que os países beneficiados também suspendessem a exigência para turistas brasileiros, o que não aconteceu. Por isso, a determinação de visto foi retomada.
Empresas de turismo de AL foram as que mais cresceram no Brasil em agosto
Divulgação
Os dados compilados pela Embratur a partir de informações da Polícia Federal e do Ministério do Turismo mostram uma inversão no fluxo de turistas.
No primeiro trimestre de 2025, foram 320.229 estrangeiros entrando no país contra 255.522 em 2024, um aumento de 25,3%.
No segundo trimestre, já com a nova regra, foram 176.491 pessoas contra 177.526 em 2024, uma redução de 0,6%.
Dos três países, os Estados Unidos foram responsáveis pelo maior fluxo de turistas ao Brasil no primeiro semestre, com 410 mil visitantes — o equivalente a 83% dos 497 mil turistas.
Além disso, os americanos ainda representam quase 8% das 5,3 milhões de pessoas que visitaram ao território brasileiro entre janeiro e junho de 2025, considerando todos os países.
Entenda o caso
O texto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em maio de 2023, revogava outro decreto originalmente criado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que dispensava visto, de forma unilateral — quando só uma das partes se sujeita — para esses países e o Japão.
Quando o novo decreto foi apresentado, o governo Lula justificou que a ideia inicial do texto não foi cumprida.
O objetivo era acabar com a imposição de forma unilateral, na expectativa de que os países também retirassem a exigência de visto para brasileiros. O que, na prática, não tinha acontecido até então.
Mas, meses depois, a medida surtiu efeito com o Japão, que topou também suspender a exigência de vistos. Os demais (EUA, Canadá e Austrália), no entanto, mantiveram a necessidade de vistos.
A questão, porém, gerou incômodo do Congresso. A decisão de retomar a exigência de vistos passou a ser alvo de parlamentares, principalmente no Senado, onde foi aprovado um projeto que busca derrubar a determinação presidencial que prevê a obrigatoriedade do visto.
Entre as justificativas, está a de que a exigência de autorização de entrada no país para viajantes desses países prejudicaria o turismo, ao desestimular a vinda de estrangeiros para o Brasil.
Entretanto, desde março o texto segue parado à espera de tramitação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, da Câmara dos Deputados. O relator designado para a matéria é o deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS).
O texto ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça e pelo plenário da Câmara. Não há um prazo para que isso ocorra.
O que o Senado argumenta?
Os senadores que votaram pela sustação do decreto (de liberar o visto) justificam que a exigência de vistos poderia reduzir o fluxo de turistas internacionais, afetando setores como hotelaria, alimentação e transporte.
O relator da proposta, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), afirmou que o crescimento do turismo no Brasil nos últimos anos é um indicador da importância da isenção de vistos.
📌 O Brasil recebeu 6,7 milhões de turistas estrangeiros em 2024, um aumento de 14,6% em relação ao ano anterior, segundo dados do governo.
📌 Só em 2023, a quantidade de turistas de EUA, Canadá e Austrália cresceu 8% em relação a 2022, chegando a 728 mil visitantes.
Para os defensores da medida, o turismo representa bilhões de reais injetados na economia, e qualquer barreira burocrática pode prejudicar o setor.
Além disso, argumentam que a taxa cobrada para emissão dos vistos (cerca de US$ 80 por pessoa, ou R$ 400) não entra no Orçamento Geral da União, mas sim no orçamento do Itamaraty. Ou seja, o valor arrecadado não seria um argumento suficiente para justificar a exigência.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ), autor do projeto, criticou a decisão do governo Lula de restabelecer a exigência:
"O presidente exorbita do seu poder ao revogar a isenção de vistos. Isso cria mais burocracia para o turismo e prejudica estados e municípios que dependem dessa atividade", afirmou.
Itamaraty é contra isenção
Assessores do Itamaraty encaminharam uma nota a senadores criticando o projeto e defendendo a volta da exigência de vistos.
No documento, os técnicos argumentam que a medida está alinhada à política migratória brasileira, baseada nos princípios da reciprocidade e igualdade de tratamento.
Além disso, o Ministério das Relações Exteriores aponta que a decisão de suspender a exigência de vistos não resultou em um aumento significativo no número de turistas desses países.
Segundo dados da Polícia Federal, os cidadãos dos EUA, Canadá, Austrália e Japão representavam 8,8% do total de visitantes estrangeiros em 2019 – ano em que o governo Bolsonaro aprovou a isenção. Em 2024, esse percentual permaneceu praticamente o mesmo: 8,4%.